sexta-feira, 6 de maio de 2011

COMUNICAÇÃO NA ERA DIGITAL

DOM ORANI JOÃO TEMPESTA, O.CIST.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro
Presidente da Comissão Episcopal para a Cultura, Educação e
Comunicação Social da CNBB.

O Dia Mundial das Comunicações afigura-se como um convite direcionado, indistintamente, a
todos nós para refletirmos e agirmos com compromisso cristão e ético nas fronteiras da Comunicação
Social – patrimônio da humanidade que ganha, no mundo de hoje, contornos nunca antes
imaginados, que se modificam em velocidade estonteante, em escalas exponenciais. Como de
costume, a cada ano temos a feliz oportunidade de aprofundar um tema em voga que contribua para
avaliarmos as mudanças, os cenários, promessas e desafios que a comunicação, sobremaneira em sua
feição tecnológica, provoca.
Neste ano de 2011 celebraremos o 45o Dia Mundial das Comunicações Sociais em 5 de junho,
data que marca a solenidade da Ascensão do Senhor. O tema que o Papa Bento XVI escolheu não
poderia ser mais prolífico e adequado aos nossos tempos: “Verdade, anúncio e autenticidade de vida,
na era digital”. O assunto que esse tema enseja possui o frescor da atualidade e exorta a todos a
restituir a verdade e autenticidade no anúncio da Boa-Nova. Para tanto, a missão de cada um de nós
é, antes de tudo, reafirmar a essência das mídias, antigas e novas, recuperando as sábias palavras do
Papa Pio XII: “[...] os maravilhosos progressos técnicos, de que se gloriam nossos tempos, sem dúvida,
são fruto do engenho e do trabalho humano”, a fim de que cada cristão e cada cristã possa fazer do
universo da comunicação social um espaço autêntico de propagação da Verdade que é Jesus Cristo.
Não podemos nos abster de cumprir essa tarefa no momento em que os artefatos tecnológicos
ocupam posição central e abarcam todos os domínios da atividade humana. É necessário que
coloquemos em funcionamento operadores éticos que coíbam abusos e favoreçam a emancipação
humana nesse terreno.
As observações do Santo Padre, o Papa Bento XVI, na mensagem para o 45o Dia Mundial das
Comunicações Sociais, não deixam margem a dúvida no que se refere à importância da comunicação
em nossas vidas:
Vai-se tornando cada vez mais comum a convicção de que, tal como a revolução
industrial produziu uma mudança profunda na sociedade através das novidades inseridas no
ciclo de produção e na vida dos trabalhadores, também hoje a profunda transformação
operada no campo das comunicações guia o fluxo de grandes mudanças culturais e sociais.
As novas tecnologias estão a mudar não só o modo de comunicar, mas a própria
comunicação em si mesma, podendo-se afirmar que estamos perante uma ampla
transformação cultural. Com este modo de difundir informações e conhecimentos, está a
nascer uma nova maneira de aprender e pensar, com oportunidades inéditas de estabelecer
relações e de construir comunhão.
A realidade construída pela comunicação digital é irreversível, como sabemos, fazendo surgir
uma cultura nova, afetando, em larga medida, os relacionamentos. A propósito, é aos relacionamentos
que o Papa Bento XVI dedica parte significativa de sua bela mensagem. Num contexto em que as
informações e o conhecimento são permutados intensivamente, em que as fronteiras entre emissor e
receptor de mensagens são diluídas, é necessário que tenhamos consciência do nosso papel e das
consequências dos nossos atos. Os intercâmbios no espaço digital não devem se oferecer apenas para
troca banal de dados, como adverte o Santo Padre, tampouco estar subjugada a ilusões narcísicas de
satisfação imediata e superficial do eu, mas deve, primordialmente, favorecer o diálogo e a partilha.
Com tanto mais razão essa advertência do Papa Bento XVI é direcionada, prioritarimente, aos
jovens, por se constituírem polo de atração vulnerável ao estabelecimento de novos contatos, novas
descobertas, ao exercício da visibilidade – possibilidades expressamente exploradas pela internet. Por
extensão, essa advertência deve ressoar nos corações e mentes dos adultos, deve impulsionar a todos
para buscar efetivamente partilhas, consolidar laços, arregimentar amizades sem, contudo, cairmos nas
armadilhas do artificialismo, tampouco nos isolarmos em um mundo virtual paralelo onde os
relacionamentos a distância nos satisfaçam provisoriamente.
A esse respeito, o Santo Padre nos pergunta: “Quem é o meu próximo?”, “em qual mundo
vivemos?”. Sem constestar os avanços logrados pela internet, Bento XVI esclarece que esses mundos
virtuais não substituem o relacionamento interpessoal. Com as novas tecnologias podemos nos
encontrar para além dos “confins do espaço e das próprias culturas”, e isso supõe uma coerência de
vida e honestidade de princípios. É o retorno do velho ditado que o segredo está justamente no “ser
humano”, um operador desses veículos de transmissão e informação. Essas advertências nos levam a
refletir sobre o papel da evangelização nesse contexto.
A busca de amizades e de laços afetivos torna o espaço das mídias sociais um lugar de intensas
movimentações e exibição de si próprio (pensamentos, desejos e ações). O lastro que a cultura virtual
vai deixando em nossa trajetória abre um leque diverso de oportunidades: não raro vemos a
exploração dessas mídias para a propagação de candidatos a cargos políticos, para difamações de
pessoas, de grupos étnico-raciais, para convocação momentânea de manifestações públicas. O alcance
dessas mídias são ferramentas indispensáveis que chegam a ser fonte de notícias para os jornais
impressos.
Os relacionamentos efêmeros e as trocas passageiras encetadas pela internet e outros dispositivos
digitais, por sua vez, nos conduzem a uma ponderação ainda mais profunda: qual ideal de humano
temos e qual podemos construir? Certamente, o desenrolar dessas questões nos reenvia para os modos
de utilização desses meios. A Igreja, no seu compromisso com uma outra comunicação, vem dotando
seus fiéis com vários estudos e dabates consubstanciados em textos e documentos, a exemplo de Igreja
e Internet (28.02.2002), Ética na Internet (28.02.2002) e Ética nas Comunicações Sociais (02.06.2000),
além da carta apostólica O Rápido Desenvolvimento (24.01.2005). A propósito, essas mesmas
preocupações estão previstas de maneira resumida no documento conciliar Inter Mirifica, que
completará cinquenta anos em 4 de dezembro de 2014.
Não nos olvidemos: as múltiplas possibilidades de interação com os meios digitais, com a
cultura virtual não pode e nem deve estar desvinculada do diálogo que vivifica, da comunhão que nos
redime, a fim de que a grande rede seja de fato uma instância criativa de identificação coletiva, de
aproximação do outro e, fundamentalmente, de transmissão do Evangelho.
A nossa vocação não pode ser desprezada, pois somos chamados a testemunhar com coerência os
juízos, perfis, escolhas, preferências de maneira que transpareça as razões “de nossa esperança”, a
proclamar que Cristo “constitui a resposta plena e autêntica”.
Especialmente para nós no Brasil, esse Dia Mundial das Comunicações vai ressoar as conquistas
oriundas do trabalho da nossa Comissão Episcopal, procurando sempre dar a resposta plena e
autêntica a Jesus Cristo, com a graça de Deus: a criação da Signis Brasil, instituição articuladora por
congregar todos os meios de comunicação católicos de nosso país, e a publicação do documento
Estudos da CNBB n. 101, intitulado A comunicação na vida e missão da Igreja no Brasil, base
fundamental para a construção do futuro Diretório das Comunicações, ainda tão sonhado e desejado,
são alguns empreendimentos que visam fazer dos tentáculos comunicacionais instrumentos a serviço
da obra de Deus.
Menção seja dada também à equipe de assessoria nacional da Pastoral da Comunicação, que vem
dedicando suas reflexões e estudos para oferecer análises e propostas adequadas aos comunicadores
por meio da publicação de novo livro sobre a nossa estimada Pastoral da Comunicação (PASCOM).
Não podemos deixar de aludir ao Seminário de Comunicação para os Bispos do Brasil, a ser realizado
em julho deste ano, promovido em parceria com o Pontifício Conselho para as Comunicações
Sociais. Esse seminário procura reposicionar as discussões sobre o tema levando em conta as reflexões
contidas na mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações de 2011, bem como as
diretrizes estabelecidas pela Igreja para esse expediente.
Dessa maneira, resta-nos convidá-lo a integrar a geração digital, com a plena convicção de que
somos chamados a aceitar o desafio de fazer dessas novas formas de expressão o areópago digital, onde
Cristo mostra seu rosto e nos convoca para a conversão. Portanto, o nosso desafio é trabalhar em
nossas comunidades, paróquias, pastorais de comunicação, propagando o tema do Dia Mundial e
colaborando para que a “Verdade, anúncio e autenticidade de vida, na era digital”, seja uma realidade
incontornável em nosso entorno e no mundo.

DOM ORANI JOÃO TEMPESTA, O.CIST.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro
Fonte:www.cnbb.org.br

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